Premonition Man

 

É largamente aceita a narrativa de que Demolition Man (1993) é um filme que previu várias coisas que observamos na cultura hoje. Decidi então assistir novamente esse clássico da cinematografia premonitória para checar o quão precisas eram essas fantásticas previsões, mas o que não previ foi a descoberta de que não há previsão alguma nesse filme. A narrativa do Premonition Man de Sylvester Stallonge de ser verdade, pois nada mais é do que um truque de efeitos meméticos especiais.

O filme na realidade é uma caricatura crítica do cenário cultural da época, não um exercício de futurologia sci-fi. A hilária cena em que Stallone aceita o convite de sexo de Sandra Bullock para em seguida descobrir que no futuro só existe sexo virtual, sem "troca de fluidos", continua hilária, até porque ninguém parou de trocar fluidos hoje e não há previsão de que isso vai ocorrer. A dura verdura é que o final do milênio foi o ápice apoteótico da revolução sexual, com direito a trilha sonora de Madonna piranhando Like A Virgin (1984) nos palcos para chocar um expressivo contingente de aproximadamente zero pessoas, já que o clima geral era de libera o bacanal now.

Em 1985, veio o balde de água fria. A AIDS foi reconhecida como pandemia global, e sexo, que era até então só uma chumbregância inocente, tornou-se assunto de saúde pública. Como ninguém previu esse túnel no fim do trem, o pânico se instalou na população alcoviteira, e a pressão pelo lockdown no boneco era grande. Relações sexuais se transformaram em uma atividade perigosa, burocrática e sanitizada pela camisinha, e o gancho do cancelamento da troca de fluidos foi explorado por vários humoristas. Essa porra mata, então como AIDS era uma doença mortal na época, a única solução era rir para não chorar.

Os conceitos de politicamente correto e de policiamento da linguagem já eram mainstream nos EUA na época do filme. A cultura do cancelamento, que o filme não prevê, não havia iniciado ainda, portanto o político-corretês era difundido somente através de pressão social, alegoricamente representada na fita pelas multas que o incauto cidadão recebia ao emitir qualquer discurso profano. É daquele tempo pérolas como police officer (policial), que substitui policeman (policial), poor (pobre) passou a ser "economically disadvantaged" (pobre), old person (velho) virou "senior citizen" (velho), e mentally retarded (woke) foi trocado por "person with an intellectual disability" (woke). 

Curiosamente, black, que foi politicamente corrigido para African American, foi reabilitado e voltou a integrar o vocabulário homologado pela patrulha da língua. Mais curiosamente ainda, preto (black), que também era vocábulo politicamente incorreto no Brazil colônia do millennium passado, retornou ao dicionário das palavras autorizadas para acompanhar o imperialismo black do African American. Nada se faz, tudo se copia, quando o gato é contumaz, o periquito mia. 

Outro famoso filme premonitório é 1984, que pretendo também assistir novamente para checar as previsões futurísticas de George Orwell. O livro é de 1949, escrito logo após a segunda guerra. Aquela era a época do Goebbels - cérebro da máquina de propaganda Bigodista - e outras criaturas das trevas que controlam a narrativa e depois controlam todo mundo para zuckar quem não está engolindo a narrativa. Desconfio que não há nenhum Premonition Brother em 1984. Se minhas previsões estiverem corretas, o máximo que irei encontrar lá é o museu de grandes novidades do Cazuza.

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