Zoomers and the City

 

Por toda a história da humanidade, o curso normal dos eventos foi o de novas gerações chocarem as mais antigas com seus costumes modernosos e escandalosos. Decidida a inovar, a geração Z pretende reverter o fluxo natural do humano enquanto gente e está apostando na moda de escandalizar-se com os costumes das gerações passadas. 

É o que vemos no artigo de Helen Coffey para o Independent, onde ela se pergunta se zoomers estão preparados para sobreviver aos elementos problemáticos de Sex and the City (1998), disponível no Zoomerflix. Nada há de problemático com Sex and the City, já que problemático mesmo é o zoomer que vai sofrer de síndrome de histeria pós-traumática ao assistir um seriado que retratava o cotidiano de meros 25 anos atrás. 

Cansei de ver filme de gente virando churrasquinho na fogueira da Inquisição na Idade Média e nem por isso perdi os floquinhos escandalizado com os costumes das gerações mais antigas. Ora, aquela era a maneira que eles tinham para cancelar gente na época. Por certo essas tecnologias antigas para zuckar pessoas que não concordam com a gente parecem ultrapassadas hoje, mas era o que havia de mais avançado na época. Não é muito diferente do que ocorre hoje, onde uma turba de retardados saem em uma caça às bruxas de suas bolhas digitais para acusar alguém de algo que eles nem sabem o que é, e o infeliz é queimado na fogueira da lacração sem direito a redenção ou defesa.

Falta de noção do ridículo parece ser marca registrada da geração atual também. A jornalista achou problemático que as protagonistas do Sex and the City fazem muito sexo casual. Mas gêintchy, o seriado tem Sex no nome. Você queria que elas fizessem o quê na tal de city? Tricô? A geração dos apps de tele-sexo é a mais escandalosamente promíscua que já existiu, então parece que o que chocou Coffey foi o fato de que as piriguetes do milênio passado não tinham Tinder, portanto eram obrigadas a catar a bimbada da semana na rua, no bar, no restaurante ou na lojinha da esquina. 

Evidente que elas tinham que ser abordadas por alguém, então a jornalista não parece ter curtido a ideia de que para conseguir sexo antigamente era preciso ser assediada antes e fingir que estava gostando. Que coisa escandalosa esse costume patriarcal misógino. Por falar em escandaloso, já viu alguma vovó escandalizada com os escandalosos apps de tele-sexo da geração zoomer? Não porque escandalizada ficava a sua netinha, que acorda todo die em busca de alguma coisa nova para se escandalizar no Zoomerflix. A vovó está no Tinder passando o rodo, portanto não tem tempo para desperdiçar com gatilhos, safe spaces e outras histerias coletivas diversas. 

Desinformação é também marca registrada da geração que nasceu na era da Informação, já que a matéria afirma que o seriado inova ao apresentar mulheres financeiramente independentes e sexualmente despirocadas. Por Frida, isso já existia em 1930, mas reveladora mesmo foi a afirmação de que zoomers não são os floquinhos de neve que dizem por aí, pois são perfeitamente capazes de assistir seriados antigos com peculiaridades ideológicas menos palatáveis. Quanta coragem. You go, girl! O problema é que não há nada de ideológico com Sex and the City. É só uma série que retrata as desventuras cotidianas de piriguetes arteiras e conversadeiras do milênio passado.

O que há de mais tóxico com a geração atual não é o costume de passar o tempo inteiro tentando inventar uma maneira nova de se escandalizar, mas a ideia de que tudo é ideológico e só pode ser absorvido e compreendido através de uma lente ideológica. Um homem que peida em um elevador cheio de mulheres em um filme não pode ser só um peidorreiro. Aquilo tem que ser uma mensagem ideológica do patriarcado peidador com o objetivo de ensinar homens a estabelecer dominância exercendo sua masculinidade tóxica de maneira fedida para oprimir a classe feminina cheirosinha em luta por um ar mais respirável para as mulheres.

Como já dizia minha vó, quem sente cheiro de merda em tudo é porque tem titica no nariz, mas é impossível transmitir essas pérolas de sabedoria ancestral aos zoomers porque eles vão acusá-lo de estar defendendo seus privilégios de macho misógino e fedorento. No meu tempo, cheirar mal era só um fato malcheiroso atribuído a indivíduos com higiene deficiente. Ao que parece, hoje, até cheirar mal é um manifesto político. Cheirar bem também, porque ser inodoro é coisa de isentão.


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