Nação Tupiniquim
O dramático da nação Tupiniquim é que os que reclamam do país não ser sério por estar contaminado por ideologias destrutivas transitam em um dos grupos que mais contribuem para a falta de seriedade nacional. Ora, são os países sérios que fabricam as tais ideologias destrutivas, e não só são os mais afetados por elas como ainda contaminam as colônias com suas pérolas ideológicas.
Se fôssemos um país sério, portanto, seríamos produtor e exportador de lixo intelectual, e não consumidor. A capacidade de produzir lixo, caso você não tenha notado ainda, é um indicador que podemos usar para medir o grau de desenvolvimento de um país.
A regra se aplica a todo tipo de lixo, como o TikTok, por exemplo, uma ferramenta ideológica fabricada pelos chineses que foi projetada para ajudar os americanos a produzir e consumir lixo. Não que eles precisem de ajuda, é claro, mas é sempre gratificante observar essas iniciativas solidárias entre potências rivais.
O mundo é um lugar complicado e cheio de problemas, mas você não vai ajudar a consertar coisa alguma falando nas redes sociais o que não sabe sobre o que não entende. Postar dancinha no TikTok é uma atividade menos nociva, já que ajudar, não ajuda, mas pelo menos atrapalha.
Entendo ao menos que não sei como consertar o mundo, e, para falar a verdade, nem mesmo sei se o mundo tem conserto. Pior, não sei como seria um mundo consertado, portanto não saberia consertá-lo nem se tivesse poder e recursos para fazê-lo.
Há também a possibilidade de que o mundo pertença à classe das coisas que se consertar estraga, mas também não sei dizer se esse é o caso. Não sei se todas as coisas têm conserto, mas sei que algumas têm. Eu mesmo já consertei várias aqui em casa só vendo vídeos do YouTube. Se não há na plataforma video ensinando como consertar, é provável que não exista conserto, mas tenho esperança de que ainda vai surgir no YouTube um canal especializado em publicar videos que ensinam a consertar as coisas que ninguém ensina a consertar no YouTube.
Neste 2024, conserte aquilo que você pode consertar. Com sorte, outros vão consertar o que você não pode, e o que sobrar que não pode ser consertado por ninguém, conserteza concertado está, mas lembre-se, amiguinhe: jamais tente consertar o que não está estragado. O que não carece de conserto escuramente pertence à classe das coisas que se consertar estraga. É o caso, por exemplo, com a tentativa de consertar o português com pronome neutro, uma iniciativa com padrão intelectual dancinha de TikTok: ajudar, não ajuda, mas pelo menos atrapalha.
Se não consegui irritar todo mundo esse ano, peço perdão. Minha falha já está na lista das coisas a consertar. Sou, infelizmente, um procrastinador clássico, então pra variar dessa vez me comprometo a consertar tudo na minha lista, mas só no ano que vem.