BBB com Deficiência

 

Temáticas sobre machismo, heterossexismo e racismo já não estão dando Ibope, razão pela qual o BBB24¹ está apostando na questão da inclusão da pessoa com deficiência. O brother Vinícius Rodrigues foi incluído no BBB24, mas se sentiu excluído das provas do programa, que não estão preparadas para incluir pessoas com deficiência (PcDs), portanto a esperança é de que a problemática ajude a impulsionar os progressivamente deficientes índices de audiência da Globo, a emissora que te faz de bobo. 

Big Brother, como sempre, dá aula sobre como a realidade fora da telinha funciona, e novamente foi bastante didático. A Globo poderia ter projetado provas inclusivas para incluir o brother com deficiência, mas isso dá menos Ibobe do que fazê-lo sentir-se excluído nas provas para posteriormente sinalizar virtude com a discussão sobre inclusão de PcDs.

Políticas de inclusão, em sua maioria, funcionam da mesma maneira observada na tática de manipulação de audiência global. Na linguagem inclusiva, por exemplo, já tínhamos a expressão inclusiva portador de deficiência, cunhada para substituir outros termos supostamente ofensivos e excludentes. Para promover políticas de inclusão, é necessário portanto convencer PcDs² de que eles devem se sentir ofendidos e excluídos pela expressão, razão pela qual é necessária um nova: pessoa com deficiência. 

A artimanha é totalmente deficiente, já que nenhuma inclusão ocorre em qualquer ponto do processo de constante desconstrução da língua. Parar de usar termos como aleijado ou deficiente, adotando portador de deficiência e posteriormente pessoa com deficiência, não torna a vida dessas pessoas mais fácil. Também é inútil para mitigar preconceitos, já que se no passado havia preconceito contra aleijados, agora temos que lidar com o famigerado preconceito contra pessoas com deficiência. Jeguial.

Esse é o clássico caso em que as moscas mudam, mas o cocô continua o mesmo. Quando muito, essas iniciativas inclusivas que não promovem inclusão alguma tornam a vida das pessoas não portadoras de deficiência mais fácil ao dar a elas a sensação de que estão fazendo algo de relevante ao utilizar o dicionário homologado pela patrulha da sinalização virtude. Patrulheiros, por sua vez, lucram com o comércio de sensações virtuosas, e o resultado é um mercado aquecido e em ascensão. Ao gerar empregos e movimentar a economia, a patrulhagem ao menos promove a inclusão econômica de patrulheiros. Não é grande coisa, mas já é alguma coisa. 

Cotas raciais de inclusão nas universidades operam através da mesma sistemática vista no BBB24. Negros já estavam incluídos nos processos seletivos das universidades, já que o critério é objetivo, portanto incapaz de discriminar por raça. Para justificar cotas, a patrulha precisa então fazer a população negra desconfortável vendendo o peixe de que negros são vítimas de exclusão por não estarem proporcionalmente representados nas cadeiras universitárias. 

Homens também não estão, já que a população masculina está sub-representada hoje nas universidades. O patrulheiro dirá que não há exclusão de gênero, pois preconceito contra homens não é a causa da desigualdade. Preconceito contra negros também não é a causa da sub-representação de negros nas universidades, que é fabricada por fatores econômicos, e não raciais. Isso, entretanto, não interessa à patrulha da sinalização de virtude, pois não pode ser usado como munição para obter capital político.

Como podemos observar, quando desigualdade não dá IBope, estamos todos igualmente incluídos. Já quando nenhuma exclusão existe, não é possível lucrar com políticas de inclusão, razão pela qual exclusão precisa ser artificialmente produzida via malabarismos linguísticos e estatísticos com fim de aumentar a audiência e o lucro dos patrocinadores.  

Podemos prever, portanto, que nunca teremos um BBB edição Big Pobre Brasil, com participantes escolhidos exclusivamente entre moradores de rua e indivíduos em situação de pobreza extrema. Pobre, como sempre, só se lasca. Ninguém está interessado em representatividade de miseráveis nos comerciais, na política, nas novelas e na mídia porque eles não consomem. Gente dura não compra roupa, celular, produtos de beleza ou mesmo comida. Ser alvo de políticas de inclusão, no fim, é um luxo para incluídos, um fetiche pequeno burguês dos que se acham vítimas do sistema por não serem um neurocirurgião de renome, artista famoso, grande empresário, âncora do Jornal Nacional, ministro do STF ou vencedor do Big Brother Brasil.

É por isso que as audiências modernas só querem duas coisas: ficar rico e falar mal de rico. Outra vez, as moscas mudam, mas o cocô não. Cocô é sempre a mesma titica que sempre foi desde que surgiu o BBB. Para falar a verdade, cocô já era o mesmo cocô desde antes do surgimento do ânus, então fica a dica.



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