Triggered
A sobrecarga de tarefas domésticas das mulheres é o tipo de trabalho invisível que dá pra ver até no Fantástico, então é de se perguntar como seria o mundo se esse tipo de trabalho invisível fosse visível. Na edição¹ desse domingo, em matéria sobre o trabalho invisível das mulheres, foi possível ver como funciona o cotidiano de uma mãe de duas aborrecentes que trabalha e ainda faz tudo em casa.
A família é humilde, mas não é possível ver o pai em lugar nenhum porque ele não aparece na matéria. Provavelmente pode ser avistado em algum lugar fazendo algo que terá benefício visível para a mamãe e as pirralhas, mas que nem mesmo o Fantástico consegue enxergar.
O ápice apoteótico da matéria ocorre quando a aborrecente mais velha é consultada sobre o que pensa da situação de sobrecarga das mulheres na sociedade. Prontamente responde que a solução é estudar para não ter que repetir a história da mãe no futuro. Louça que é bom, nada. Vassoura, pano de chão, ferro de passar também são invisíveis, pois a pirralha nunca deve ter visto tais coisas.
Como vemos, feminismo é coisa que se aprende em casa. Desde a tenra idade, ela e a irmã aprendem que serviço de homem é pagar as contas, e o da mulher é ficar nas redes sociais postando meme de macho que não acha o clitóris e reclamando que o patriarcado é opressor porque sobrecarrega as mulheres com o tal de trabalho invisível.
Enquanto ela e a mana filosofam com outras manas no Todas Fritas sobre os horrores da divisão sexual do trabalho, a mãe se oprime sozinha e faz o trabalho invisível sem que as pirralhas possam ser vistas ajudando em qualquer coisa. Como é trivial constatar, a causa do feminismo é, literalmente, falta de louça para lavar, pois em qualquer agrupamento familiar em que as filhas não são feministas, visivelmente não se vê mãe sobrecarregada com os tais de trabalhos invisíveis.
Da próxima vez que encontrar uma feminista, não esqueça de perguntar: e a louça, já lavou? A resposta com certeza é não, e é por isso que elas sempre ficam com gatinhos quando o assunto é louça. Triggered, como dizem os gringos.