Conde Dooku

 


Fui acusado de dizer que lacradores são burros para insultá-los. Tal infâmia é uma sordidez inverídica inventada com o pérfido propósito de enlamear minha reputação, pois jamais disse que lacradores são burros. O que eu fiz foi provar que são burros. Parece a mesma coisa, mas se você não entende por que é outra coisa, você é burro.

Lacradores acreditam que homens têm problemas para aceitar protagonistas femininas fortes no cinema, crença desconfirmada pelas estatísticas de gênero¹ do filme The Marvels, que mostram que 65% do público que assistiu a esse flopbuster no cinema é homem. Entendo que é difícil para o lacrador, por ser burro, entender por que a prova de que ele é burro prova que ele é burro, mas o que não entendo é por que alguém acha que isso é problema meu.

Também ouvi dizer que esse tipo de vocabulário não colabora com o nível do meu texto, fazendo com que ele pareça menos profissional. Essa observação é burra, porque provar que lacrador é burro não é profissão. Isso é coisa que eu faço de graça, já que se tivesse que pagar eu pagaria. Imagine que fantástico seria um serviço de SpotiLacre, que você acessa para poder provar que lacrador é burro sem ver propagandas e sem medo de levar Zuck. Assinaria com certeza.

Essa ideia de que chamar gente burra de burro é algum tipo de agressão ou bullying é burra, um artefato politicamente correto no patamar da ideia burra de que dizer que obesidade é prejudicial à saúde é gordofobia. Há menos de um uma década atrás, as pessoas tinham permissão para chamar os outros de burro e ninguém perdia os floquinhos por causa disso. Um dos primeiros memes que viralizaram na Internet, inclusive, surgiu porque Caetano Veloso chamou um jornalista de burro em uma entrevista² de 1978. O meme "como você é burro" imortalizou na viralizosfera, e há até mesmo camiseta³ desse momento de burrice histórica.

Quando faço coaching para intelectodivergentes e portadores de incapacidades cognitivas especiais, o que recomendo sempre é discrição. Se alguém apresentar prova de que você é burro, cale a boca. Não zurre, não dê coices, não rumine, não corcoveie, não avance contra-arjumentos. As alternativas para quem é burro são ou ficar calado para deixar os outros na dúvida, ou abrir a boca e não deixar dúvida alguma. 

Ser sincero também é util. Experimente frases de efeito como nossa, mas como sou burro! Combinadas com uma cara de espanto e surpresa, essas singelas declarações não só são belas e morais como ajudam a convencer os outros de que você não sabia que era burro. Foi tudo um grande equívoco, mas a boa notícia é que você está tentando se curar. Afinal, ser burro é humano, mas insistir na burrice é uma coisa burra.

A culpa da situação atual não é minha, portanto só pode ser dos tradutores brasileiros. No início do milênio, tradutores brazucas traduziram⁴ Count Dooku como Conde Dookan. A necessidade de proteger o jovem fã de Star Wars de cacófatos anais perigosos e politicamente incorretos privou uma geração inteira de padawans de memes impagáveis e intermináveis. A adulteração mais infame ficou por conta do nome do chefe da segurança de Naboo, Captain Panaka, que tradutores brazucas panacas traduziram como Capitão Panás. Absolutamente creminosa essa abominação.

Quando você protege em excesso os jovens da natureza politicamente incorreta do mundo, eles crescem para se tornar adultos histéricos e fragilizados, que ficam dodói Dooku só porque alguém provou que eles são burros. Ficar dodói Dooku porque alguém provou que você é burro é uma coisa burra, já que a solução do problema é trivial. Se você está dodói Dooku porque é burro, basta parar de ser burro que o dodói desaparece. Resolvido o seu problema. Próximo problema, please.

Para mais dicas sobre como aliviar ardência no esfíncter, siga essa página.

[¹] https://deadline.com/2023/11/box-office-the-marvels-1235599363/

[²] https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/os-bastidores-do-meme-de-caetano-veloso.phtml

[³] https://www.elo7.com.br/camiseta-caetano-veloso-blusa-meme-como-voce-e-burro-cara/dp/103D47B

[⁴] https://gente.ig.com.br/cultura/2017-05-24/star-wars.html


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