Victoria's Secret



Como sabemos, a mulher desconstruída tem duas metas que pretende dobrar depois de atingir: não se vestir para agradar macho e problematizar o drama da solidão da mulher que não se veste para agradar macho. Atenta ao trending empoderado, Victoria's Secret cancelou suas Angels alguns anos atrás em favor de uma campanha de marketing barangoinclusiva, que investiu pesado em modelos de peso para vender lingerie. 

A intenção era das melhores, mas o resultado¹ foi um fiasco de bilheteria que acarretou forte embagulhamento das ações da empresa. Para se salvar do catastrófico encalhe e não ficar para titia, Victoria's decidiu dar ré no kilbee, cancelar as barangas e reativar as Angels, ressuscitando a velha tática de usar mulher gostosa para vender lingerie. É difícil encontrar palavras para descrever o quanto estou perplexo com essa notícia totalmente inesperada.

A ideia que impulsionou a campanha barangopositiva é a de que as Angels foram concebidas para atender à lente masculina, e é muito patriarcal essa história de que lingerie existe para agradar macho. A empoderada mulher moderna precisa de uma roupa de baixo mais atual, em conformidade com os ideais the future is female dos novos tempos. Sai de cena então a lingerie para agradar macho e ganha os holofotes um conceito inovador e revolucionário: a lingerie para agradar baranga. O plano bagulhoinclusivo embagulhou as vendas, já que nem as barangas querem comprar lingerie da Baranga's Secret. Outra vez, é difícil descrever minha surpresa. Estou realmente chocado, pois jamais seria capaz de prever essa lacradora tragédia de desconstrução de marketing.

A verdade é que as mulheres adoram dizer que não se vestem para agradar homens. Já os meninos adoram fingir que acreditam nessas mentirinhas que as mulheres contam. Afinal, é só uma mentirinha, uma lorotinha inocente sem maiores consequências no balanço financeiro dos tubarões da indústria da moda. Tudo tem limites, entretanto, então esse conto da vigária da mulher que não compra lingerie para agradar macho extrapolou todos os limites da razoabilidade. 

Supondo que você ache que essa conversa mole de lingerie para atender à lente feminina é um papo totalmente lésbico e homoerótico, você não só está certo, como inclusive tem razão, já que a campanha barangoinclusiva incluiu o público LGTVQuê+ de todos os gêneros. Afinal, mulheres com penes também usam lingerie, então o desespero da mulher cisheteronormativa para comprar produtos da empresa após ver um barbado não-binárie de calcinha e corpete grife Baranga's Secret saltitando na passarela deve ser algo avassalador. Como é trivial constatar, tinha tudo para não funcionar esse plano de vender lingerie desconstruída pela lente feminina, então é difícil determinar exatamente o que saiu errado e por qual buraco.

Seja como for, agora fica fácil entender por que Gisele Bündchen ganhava U$ 40 milhões por ano. Gi é a Angel das Angels, a top das tops, a übermodel definitiva. Esse ser divino disfarçado de mulher é capaz de vender geladeira para esquimó, picanha para veganos e até aparelho de depilação para feministas, então vender lingerie para barangas é modo easy para ela. 

Qualquer relação entre sua aposentadoria² em 2015 e o colapso embagulhante das passarelas e capas de revista não é mera coincidência. Precisamos urgentemente de uma campanha volta Bündchen: Gi já! As peruas, as desclassificadas, as cafonas, as gordas, as barangas e as fracassadas que me perdoem, mas a Gi é fundamental.

Invejosas dirão que estou delirando, mas delírio mesmo é a notícia de que Gisele Bündchen cancelou a aposentadoria³ e está de volta à Victoria's Secret. Gi, junto com outras modelos icônicas da marca, desfilaram em setembro deste ano para garantir a representatividade da mulher gostosa na indústria da gostosificação da mulher. Chora, barangas! 

#SomosTodesGi





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