Macho Lésbico
Todo processo de desconstrução da masculinidade é inspirado na ideia de que o problema do homem é ser homem. A cura para sua condição de macho, portanto, consiste em transformar o indivíduo em uma versão desmachificada do masculino, ideia movida pela esperança de que o homem desconstruído vai herdar por osmose estrogênica algumas das virtudes do sexo virtuoso: a mulher.
Como seria essa criatura ao final do processo de desbasgulização é um assunto controverso, mas depois que descobri David, um macho lésbico não-binário, acredito que não há mais que se falar em controvérsia. Pessoas maldosas dirão que estou inventando esse tal de macho lésbico não-binário, o que prova que, além de maldosas, são incultas. O assunto da lesbianidade masculina foi abordado recentemente no mítico paper¹ Machos Lésbicos e o Corpo Pós-moderno, publicado no periódico de Filosofia Feminista Hypatia pela Cambridge University Press.
David está interessado em conhecer outras lésbicas online, mas somente se elas forem mulheres biológicas. Como podemos observar, o processo de herança de virtudes femininas via osmose estrogênica foi um sucesso. Afinal, nada mais estrogenado do que um homem lésbico vaginosexual, aquele que não tem interesse em penes de menino, menina ou menine. Se bem conheço esse David, ele vai acusar lésbicas de lesbofobia caso não aceitem brincar com seu penes de menino lésbico. O assunto falo lésbico, por falar nisso, já foi tratado por Judith Butler² em seu seminal e bacanal Corpos que importam: os limites discursivos do sexo.
Confesso que já fiz alguns malabarismos moralmente questionáveis no passado para conseguir sexo, como pagar cinema, sushi e motel, por exemplo, mas colocar batom, óculos de Tia da Sukita e fazer bullying com lésbicas para que aceitem transar com homem já ultrapassou os limites da surrealidade. O que temos aqui é cobrança da dívida histórica, já que são mulheres lésbicas as que lideraram a revolução cultural que disparou o processo de desbagulização dos Davids.
O que você consegue após desconstruir um bofe até livrá-lo de todo o seu machismo, sua masculinidade tóxica e seu heterossexismo patriarcal é fabricar um indivídue incapaz de despertar o desejo sexual da mulher hetero. Se mulheres heterossexuais não vão resolver o problema dos Davids, acusar lésbicas de lesbofóbicas para que o façam é justiça de Frida.