You Can Be Anything
Depois de ouvir todos os avisos sobre panfletagem feminista e - desculpe a redundância - narrativa de ódio a homens, não tinha nenhuma expectativa sobre o filme da Barbie. Confesso, entretanto, que fiquei confuso sobre o que esse filme pretende, se é que pretendeu alguma coisa.
Dizem os executivos da Mattel que Barbie não é um filme sobre feminismo, e essa é uma leitura possível sobre a história. Outros estão dizendo que ele é uma hyperwoke tese de mestrado feminista, leitura mais possível ainda, enquanto outros dizem que é um retrocesso na agenda a escolha de uma protagonista branca com corpo padrão. Para cada espectador parece haver uma Barbie, ou mesmo muitas Barbies, então desconfio que esse filme pode ser o que você quiser. Isso é irônico, por se tratar de um filme da Barbie, mas pode também ser icônico, se é essa a maneira que você escolheu enxergar.
Sim, Barbieland é um Barbiearcado onde os Kens são seres irrevelantes, mas dentro do universo Barbie, Ken é de fato secundário, então você decide se isso é só a reprodução do mundo da boneca, uma tentativa de debranquir homens, os dois ou mesmo nenhum. Quando Ken e Barbie visitam o mundo real - o patriarcado - de fato os homens são representados como imbecis ou escrotos, mas como o filme inteiro é bastante escrachado e cartunizado, você fica na dúvida se entendeu ou não entendeu que está na dúvida, portanto pouca coisa na história parece não estar sujeita a múltiplas interpretações.
É incontável o número de vezes que a palavra patriarcado é pronunciada, e o filme produz várias falas padrão She-Hulk de descolamento feminista da realidade, mas como tudo é muito caricato sempre resta dúvida sobre o que de fato está ocorrendo. Aquilo é uma brincadeira para ser levada a sério ou é sério que é brincadeira? Em vários momentos há a impressão de que é o feminismo e sua visão do patriarcado que estão sendo parodiados e criticados, e Ken é o verdadeiro protagonista. Tanto ele quanto Barbie percorrem uma versão da jornada do herói, algo incomum em Hollywoke hoje, e ambos vão trilhar um caminho com queda, redenção, e por fim sabedoria.
Depois de Barbie, fui descobrir que estava errado, e nunca entendi de fato o que a plastic blonde da Mattel significa. Barbie não é sobre patriarcado, sociedade de consumo, padrões de beleza, diversidade, inclusão ou alguma metanarrativa que precisa ser decifrada e entendida. Barbie também não é sobre ser qualquer coisa que você quiser. No fim - e por fim eu me refiro a literalmente no final - Barbie é sobre uma menina se transformando em mulher.
Se o que falei não é a verdura, somente a verdura e nada mais que a verdura, eu peço desculpas por ser homem e deposito na sua conta bancária dez vezes o que você pagou pelo ingresso. A promoção é pramocinha, mas também pramocinhe, então desejo a todos uma semana que possa ser qualquer coisa que você quiser.