Rola de Valor

 

Amiga, sei que hoje é seu dia, mas como acredito que você deve ter mais experiência nesse assunto do que eu, resolvi pedir ajuda para dar o furo. Preciso que alguém me apresente um empregador que, de forma sistemática, reiterada e motivada por discriminação sexual, comprovadamente pague a mulheres menos do que oferece a homens pelo mesmo cargo, mesma função, mesma área de especialidade, mesmo número de horas trabalhadas, mesma perícia técnica, mesmo nível de produtividade, mesmo tempo de empresa e mesmo todas as outras variáveis conhecidas que alteram a composição remuneratória de assalariados, pró-laborizados, pejoticizados, uberizados e outras formas de transferência de renda entre cisheteromachos patriarcais brancos detentores do capital e proletominas oprimidas da classe trabalhadora interseccional.

Ninguém nunca veiculou notícia desse tipo, então se eu conseguir dar esse furo de reportagem é coisa para prêmio Pulitzer. Alienígenas de outras galáxias virão para cá assistir a cobertura da QNN (Queernews Network) sobre o fantástico caso do empresário tarado por piroca que paga 30% de bônus para os seus funcionários só porque eles têm um pau. Nem ator pornô, que é contratado para ralar o pinto durante o expediente, ganha mais do que suas colegas mulheres para foder a mesma coisa que elas, então é de se perguntar o que é que esse empresário que nunca ninguém viu nem sabe onde encontrar tem em mente com sua política salarial de trocar plãs por penes.

Veja bem, até conheço uns sujeitos por aí que são apaixonadíssimos por rola, mas vamos combinar que tá caro esse pinto, né amiga? Não precisa ser nenhum expert em geopolítica e cenário socioeconômico global para descobrir que pau com preço acima de zero centavos está pedindo acima da tabela. 

Quando a tara é muita, até Frida - louvada seja a Deusa -  desconfia, então estou seriamente desconfiado de que essas histórias de gente que ganha bônus ticudo no contracheque só porque colocaram o penes na mesa na hora de negociar salário com o patrão são fake news. Isso tem que ser lenda urbana, porque esse negócio de pinto que dá vantagens e benefícios escuramente é psicose coletiva, alguma espécie de piada de mau gosto que inventaram para fazer sexo com a minha paciência. 

O meu pinto, por exemplo, nunca me rendeu nada além de prejuízo e dores de cabeças. É cabeças mesmo, no plural. Não só custa uma pequena fortuna para usar essa encrenca, como não há nenhuma garantia de que não vai disparar antes da hora ou me deixar na mão quando mais preciso dele. Ainda que eu conseguisse 30% de bônus no contracheque só porque tenho aquilo que balança, algo mais difícil de ocorrer do que uma violação das leis da termodinâmica, iria acabar com o pau na mão amargando o prejuízo. 

Por falar nisso, você já pensou o que as pessoas iriam pensar de um empresário que pagasse um plus a mais para funcionáries só porque elus tem uma vagina? Acertou, amiga! Elas pensariam exatamente isso que você está pensando: essa lei de igualdade salarial de gênero¹ que o governo vai oferecer de presente no Dia das Mulheres só tem efeito pra sebo. 

Por acaso algum seboso ainda não sabe que discriminação salarial com base em sexo já é proibida na Constituição, e mesmo que não fosse, seria economicamente inviável, já que empresário algum é tarado por rola o suficiente para pagar mais caro a alguém só porque a pessoa tem uma chonga? Se tal coisa fosse viável, homens seriam os primeiros a protestar, já que em uma realidade em que há no mercado mão de obra mais barata do que a sua para fazer exatamente a mesma coisa que você faz, sua empregabilidade já foi pro espaço. Em outras palavras, essa lei é praticamente um pênis: custa dinheiro do contribuinte para fazer os outros engolirem e é totalmente inútil.

Em todo lugar do planeta, mídia oficial e governantes de todos os pólos políticos mentem a mulheres sobre o famoso wage gap, fábula mais persistente e disseminada do que aquele fake news que diz que tamanho não importa. Resta saber, no fim, a quem serve essa gigantesca campanha de marketing para manter mulheres iludidas a respeito do que o meu pau é capaz de fazer. Confesso que não sei a resposta, mas se você descobrir, não deixe de me contar. Vamos dar esse furo juntinhes e revelar ao mundo que o meu pinto não é essa delícia toda que as meninas andam falando por aí. 

E por hoje é só, amiga. É o que eu tinha para dar no Dia das Mulheres, então lembre-se nessa hora do que já dizia o velho deitado: caralho dado não se põe os dentes. Certas coisas no universo são de graça não porque não têm valor, mas porque se cobrar ninguém leva. 

Levou?


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