Scooby-Woke-Doo
Salsicha, personagem hippie do desenho animado Scooby-Doo, é sabidamente maconheiro, e os autores da série original não mediram esforços para deixar claro que isso está subentendido na narrativa. Na história, ele é o único humano que dialoga com Scooby, ou seja, o maluco escuramente é doidão, já que evidentemente você precisa estar chapado para achar que consegue trocar ideias com um dogue alemão, au au?
Outra dica plantada pela produção é que ele está sempre com fome, e passa o tempo inteiro atrás de comida. Clássico comportamento de cannabis-aditivo enlaricado, daqueles que frequentavam a página do Quebrando o Tabu, mas já fumaram tanta maconha que esqueceram até o próprio pronome. Fazer um Afro-Salsicha para promover diversidade racial, portanto, é mais gafe do que Tarzan Black, já que o subtítulo do Tarzan é literalmente homem-macaco. Com gafe ou sem gafe, agora já foi, então já era. Melhor sorte na próxima.
O fato é que, de acordo com as regras desconstruídas de Hollywoke, na presença de uma mulher forte como protagonista, o homem negro coadjuvante tem que ser o alívio cômico, pois o papel de totalmente imbecil é sempre reservado ao personagem masculino branco cisheteronormativo. Sobrou então para o Fred, o único com semblante idiota no novo Scooby-Doo da WokeBO Max.
Nesse reboot lacrador, Velma, agora a protagonista principal, além de indiana, é também lésbica¹ com fim de garantir representatividade racial e sexual. Scooby foi cortado do seu próprio desenho possivelmente porque trocar sua raça ia ficar complicado, e ele teria que aparecer como um Chow-Chow pansexual. Não é exatamente uma má ideia, mas talvez a produção tenha guardado essa carta na manga para usar nas próximas temporadas, quiçá em uma nova série: As Fantásticas Aventuras de Chow-Chow-Doo, o Transdogue Alemão Não Binário.
O que há de inovador nesse novo Scooby-Doo desconstruído, além da ausência do Scooby, é que o fanbait já está no trailer² da série, onde Velma aparece ironizando fãs que não gostam de alterações na sexualidade e raça dos personagens. Escuro que agora vou ficar com remorso por não assistir algo que eu já não ia assistir de qualquer maneira caso nada tivesse sido alterado, e mudar de ideia só para não me sentir um lesbofóbico racista e xenófobo.
Fico curioso, no fim, sobre o destino de Hollywoke após a rebootização interseccional completa da identidade de todos, todas e todes os personagens existentes, o que resultará na normatização reversa das narrativas não normativas de protesto contra a supremacia cisheteroeuropatriarcal. Nesse momento crítico de saturação do mercado com abobrinha ideológica estrutural, reengarrafar laxante vencido para vender como água vegana diet vai se tornar uma prática obsoleta, e aí faz o quê? Melhor nem dizer que é para não levar Zuck.