Flerte & Assédio

 


A diferença entre flerte e assédio é, e sempre foi, a lataria. Quando o Hetero Top da Ferrari fica encarando fixamente com cara de tarado é flerte, já se for o Betão do Fuscão é assédio. Só é assédio porque o Betão ao menos está motorizado, pois se estivesse no metrô seria violência sexual. Fás centido. Se encarada de macho feio é assédio, imagine de macho feio sem carro. Elas chamam a polícia, que é precisamente o que está ocorrendo no metrô de Londres¹, onde já tem Betão sem Fuscão indo para a cadeia por ficar encarando mulheres no vagão.

Ser feio e pobre ainda não é crime na Austrália, mas já temos uma casa noturna em Sydney² que anunciou uma política de remover frequentadores que ficam encarando mulheres sem consentimento. Como vemos, a única maneira de não assediar mulheres é, e sempre foi, ser o Hetero Top da Ferrari. Isso é o bê-á-bá que qualquer homem sabe desde a época dos Fenícios, mas supondo que você não seja qualquer homem, sempre pode consultar aqueles estudos³ que pesquisadores fazem para descobrir o que todo mundo já sabe: seu grau de crocância é inversamente proporcional à probabilidade de ser considerado um assediador.

Várias mentirosinhas vão dizer, é claro, que isso é mentira, e que mesmo quando o Hetero Top na Ferrari encara com cara de tarado na rua, ainda assim é assédio. Nessa hora eu finjo que acredito e pergunto quantos hetero top com Ferrari já fizeram isso com elas. Esse é o momento em que as mentirosinhas ficam vermelhas, começam a rosnar, espumar e gralhar em desespero para em seguida desaparecer para sempre sem deixar resposta.

Mentirinha tem mesmo perna curta, e meninas definitivamente não gostam quando você expõe suas mentirinhas, mas como sororidade também é mentirinha, nem mesmo mulheres resistem à tentação de entregar as mentirinhas das companheiras. É o que fez a jornalista Emily Hill em seu artigo⁴ para o The Spectator. De acordo com Emily, o problema da modernete britânica usuária de metrô são os Betões sem Fuscão olhando para elas no vagão. Ora, mas quem poderia imaginar, não é mesmo? 

O que podemos concluir dessa dinâmica é que o homem, e não a mulher, é a verdadeira vítima de objetificação sexual. Não a objetificação sexual no sentido de ser o alvo do desejo do outro, mas aquela em que o indivíduo é coisificado, subtraído da sua condição de pessoa. Homens sem utilidade sexual para mulheres não recebem o status de humanos, são meras coisas abjetas que não devem possuir os mesmos direitos das mulheres, como, por exemplo, o direito de abordar o sexo oposto quando achar conveniente, ou mesmo o direito de escolher para qual direção olhar em público sem ser considerado agressor sexual em potencial ou um agressor sexual de fato. 
 
Para os que nunca testemunharam a diferença entre flerte e assédio na prática, e nunca viram como mulheres de fato reagem quando são olhadas por heteros top com cara de tarado, recomento assistir a já mítica pegadinha do Cego Paquerador, cujo video⁵ pode ser encontrado no Youtube. O vídeo é especialmente instrutivo nesse momento em que a vontade de odiar homem é tão monumental que nem mesmo ser cego livra você da acusação de ser um assediador⁶ por estar "olhando" para uma mulher.

Não seja uma pessoa com deficiência visual, amiguinhe: seu problema não é ser assediador, seu problema é que a distância hipergâmica entre você e a vítima do patriarcado não é suficiente para abonar a quantidade de opressão que você está exalando no momento. 






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