Aquarium
Quantidade e qualidade são grandezas inversamente correlacionadas. Essa é uma regra universal, no mínimo galactical, razão pela qual sempre tive receio de que a popularidade da minha página aumentasse de forma desordenada. Por esse motivo, tomo o cuidado de somente postar textos com no mínimo dois parágrafos, mas para garantir eu nunca publico nada com menos de três parágrafos e uma figurinha. Essa técnica mantém os imbecis afastados, embora sempre exista um idiota ou outro que viu a figurinha e aparece para dizer que não leu, mas também não gostou. Não sei o que fazer com esses asnos além de achar que eles são jeguiais.
Sempre que um grupo qualquer ultrapassa determinado tamanho, o número de jumentos atinge um patamar crítico. Isso faz com que eles passem a se reconhecer dentro do grupo, perdendo a vergonha e a discrição típicas dos jumentos isolados. Esse é o conhecido efeito manada, que ocorre quando um bando de asnos assume o controle de um grupo, desencadeando uma reação em cadeia que encadeia uma série de eventos jumentos em série.
Foi o caso em meu texto sobre o filme Prey (2022), que alcançou mais de 50 mil pessoas, um grau de viralização anormal para minha página. Com um número desses, os jumentos começam a se enxergar e a se organizar no cardume, e iniciam um frenesi posta-bosta impossível de gerenciar. Só o que me resta nesses momentos é contemplar em assombro aqueles animais exóticos desfilando na minha frente, como fazemos naqueles tanques gigantes de observação da fauna marinha.
Assim que o sujeito diz que afirmei que Prey contém propaganda woke por não ter gostado do filme, eu já sei que é burro. Quando diz que eu não gostei do filme porque tenho problemas com protagonistas mulheres e prefiro ver homens musculosos, aí eu tenho certeza que é asno. Só pode ser muito jumento, pois meu texto não só não era uma análise sobre a qualidade cinematográfica de Prey, como eu expressamente afirmei ter gostado do filme, algo que se mostrou incapaz de impedir a relinchante jumentosfera de surtar histericamente.
Naru, a protagonista de Prey, é uma aborrecente sustentada pelo papai Cacique que deixa a mamãe sofredora fazer sozinha as pesadas tarefas relegadas ao papel de gênero feminino na tribo Comanche. Dá menos trabalho passar o dia na floresta batendo perna com seu totó, reclamando que os meninos não confiam que ela possa ser caçadora por ser menina. Ora, se isso não é uma fábula feministeen clássica, o que mais poderia ser?
O que Naru teria que fazer ou dizer para que você se convença de que Prey é um filme feministeen? Mostrar as tetas para protestar contra o predador? Postar que ele não acha o clitóris na ComancheNet através de sinais de fumaça para acabar com a reputação do alienígena? Gritar que macho branco eurocêntrico heteronormativo é escroto? Difícil dizer.
Já temos notícia¹ de que a Disney+, animada com o sucesso de Prey, vai investir em uma série direcionada ao público adolescente. Ora, alguém já não tinha visto que Prey é uma história feministeen para o público aborrecenteen? Só quem é jumenteen não viu isso ainda, aí fica histeriqueen postando bosteen na minha página só porque eu cantei o script certeen, nada mais do que o óbvio trivial que qualquer executiveen wokensteen da Disney já está cabeludo de saber.
Se você achou que Predatorteen, digo, Prey, é uma obra-prima, você provavelmente é um aborrecenteen. Seu cérebro está ainda em fase de amadurecimento, processo que hoje, para alguns, se estende até os quarenta anos, talvez mais. É ok ser um aborrecenteen, mas, por favor, não seja um jumenteen.
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