Paradoxo da Tolerância
O paradoxo da tolerância de Popper vem sendo usado, ou porque não dizer, abusado nos últimos anos como a bala de prata contra a liberdade de expressão. Tal atividade já deveria soar suspeita de início, já que a intenção de Popper ao falar sobre o paradoxo é se opor à intolerância, e não produzir um mecanismo para viabilizá-la. Ocorre que a maneira como o paradoxo nos é apresentado em vários lugares demonstra que ele está sendo transmitido, proposital ou inadvertidamente, de forma incorreta.
"Assim, parafraseando Karl Popper, nada mais correto que, em nome da tolerância, reivindicar o direito de não tolerar aqueles que são intolerantes." - Felipe Berenguer, colunista emppoperado¹
"... se a democracia é tolerante com os intolerantes, ela mesma corre o risco de ser sequestrada por quem não lhe atribui valor." - Dawissom, filossofom de Twittersson²
Nada mais incorreto do que parafrasear Popper como fez Felipe. Sim, também corremos o sério risco de continuar não entendendo o que Popper falou se dependermos do Dawisson. Se não tolerar o intolerante é a solução para o paradoxo da tolerância, você não solucionou o paradoxo, já que você investiu-se da própria tirania que pretende eliminar da sociedade e vai fabricar, segundo Popper, o fim da tolerância. Logo após descrever o paradoxo, Popper o resolve, mas curiosamente o que ele escreveu a seguir jamais é citado:
"não insinuo, por exemplo, que devamos sempre suprimir a expressão de filosofias intolerantes; desde que possamos combatê-las com argumentos racionais e mantê-las em xeque frente à opinião pública, suprimi-las seria, certamente, imprudente. Mas devemos-nos reservar o direito de suprimi-las, se necessário, mesmo que pela força; pode ser que eles não estejam preparados para nos encontrar nos níveis dos argumentos racionais, ao começar por criticar todos os argumentos e proibindo seus seguidores de ouvir argumentos racionais, porque são enganadores, e ensiná-los a responder aos argumentos com punhos ou pistolas." - Karl Popper, A Sociedade Aberta e seus Inimigos
Aqui Popper descreve os próprios indivíduos que pretendem usá-lo a seu favor. Por certo não usam punhos ou pistolas, mas outros meios à sua disposição para cancelar a posição contrária e eximir-se de encontrá-la no nível do argumento racional. Força contra ideias intolerantes somente deve ser aplicada, segundo o filósofo, para calar indivíduos que recusam-se a a submeter seu discurso ao escrutínio público enquanto incitam seus seguidores a não interagir com argumentação contrária.