Différance

 

Queers estão putes com o algoritmo de burrice artificial do Youtube¹, que desmonetiza seus vídeos desconstruídes porque troca as bolas com os dicionários, e pensa que palavras que estão no alfarrábio de desconstrutês estão no de político-incorretês. É isso que dá ficar inventando porcaria com a língua toda hora: funde o algoritmo de zuck do Youtube. Isso é ótimo, já que essa incapacidade do algoritmo de burrice artificial do Youtube revela coisas desconfortáveis a respeito da cultura atual. 

Tenho observado Youtubers tentando desviar do algoritmo de desmonetização alterando, substituindo palavras ou explicando através de frases a qual palavra se referem. Colheres, por exemplo, embora sejam todas diferentes, são todas iguais, e não há algoritmo de inteligência artificial disponível ainda capaz de descobrir a que colher estou me referindo, embora seja evidente o que não está evidente por meio da mágica do contexto. A máquina não entende, pelo menos por enquanto, o que humanos estão fazendo com contexto, que nada mais é do que atribuir a algo arbitrário um significado usando não a palavra, mas o que está em volta da palavra.

Alfaces são todas iguais.
Guarda-chuvas são todas iguais.
Parafusos são todas iguais.
Vocês sabem bem quem são todas iguais.

Eu inutilizo meu ventil por meio de inserção de objeto calibroso de contexto erótico se alguma máquina conseguir entender sobre quem eu estou falando nessas frases. Lacraias peludas já faz um tempo largaram do meu pé, então posso falar delas em paz. Basta alterar o contexto que elas não conseguem mais saber do que eu estou falando, pois o que escrevo não processa na lista de palavras proibidas instaladas no cerebrinho delas. E depois, qualquer coisa maior que duas linhas ninguém lê mesmo, então posso falar o que eu quiser no último parágrafo que ninguém vai saber o que eu estou falando. Nem o algoritmo de burrice artificial do Youtube me acha.

A boa notícia é de que a meta de um dia construir máquinas que ultrapassem a inteligência humana pode ser conseguida por meio passivo muito antes de ultrapassarmos a metade da meta. Passivo carece de contexto para ser entendido, mas no contexto que estou usando, basta prosseguir no ritmo de emburrecimento humano atual para que as máquinas nos ultrapassem sem que seja necessário qualquer upgrade. Muito em breve, celulares de hoje serão capazes de explicar coisas a aborrecentes do futuro com fim de tentar ajudar os pirralhos do amanhã a alcançar o nível intelectual dos seus apps. Assim como o algoritmo do Youtube, eles vão tentar, mas falharão miseravelmente.

Agora que esse é o último parágrafo, posso revelar o que vim fazer aqui: explicar Jacques Derrida, já que Judith Butler, a Papisa Queer, definitivamente não entende Derrida. Segundo Derrida, todas as palavras são símbolos arbitrários que só adquirem significado quando contrastadas com o que está em volta. Butler entende com isso que toda coisa é igual a qualquer coisa, mas não é essa coisa que Derrida quis coisar. O que ele disse é que toda coisa é igual a qualquer coisa até ser coisada entre outras coisas - différance. Di + referente, direferente, diferente. Uma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa, já que mesmo que a outra coisa seja a mesma coisa, ainda assim não são a mesma coisa. Coisou?

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