BiRobin

 

Agora começou com essa frescure de Robin¹ bissexual. No meu tempo nem tinha isso de bi, só havia giletes. A bissexualidade do Robin apaga sua história sim. Nos áureos tempos, todo mundo sabia que Robin só tinha olhos para o Batman, mas parece que agora capitulou e está pulando a cerca com a Batgirl. Estou decepcionado, pois além de fã do Batman, sou um cara romântico, daqueles do tipo de um amor só, talvez dois ou três. Tá bom, cinco e não se fala mais nesse assunto, então jamais pensei que o lindo romance do Morcegão com o Menino Prodígio iria terminar assim. No futuro, vão transformar Robin em pansexual, em seguida pansexual fluid, depois pansexual fluid não binário, etc. Santa normatividade, Batman! Onde é que isso vai parar? Enquanto isso, a criminalidade toma conta de Gotham, já que um sujeito que passa tanto tempo obcecado com gênero e sexualidade não tem tempo para dar conta nem do Batman direito, que dirá dos bandidos, bandidas e bandides.

Todo mundo sempre soube sobre a sexualidade do Robin. Bruce Wayne, um magnata solteiro, bonitão, malhado, adota garotinho trapezista sarado, dezoito aninhos, órfão e carente, e o leva para morar em sua mansão com fim de lhe dar treinamento, tutela, sustento e proteção. Sim, claro. Só você não sabe o que está rolando na Batcaverna, e está até hoje aguardando um tweet do Robin saindo do armário, onde ele revela o que qualquer arigó já sabia. Na época, como a coisa estava muito escancarada, tiveram que dar um sumiço no Menino Prodígio, e o Batman começou a aparecer solo nos quadrinhos. Quando ressurgiu, era um Batman violento, perturbado, um cara das trevas, mas todos sabiam que aquelas trevas todas eram só manha, uma estratégia de marketing para varrer as plumas e purpurinas para baixo do tapete e enterrar o passado do Morcegão bem fundo lá atrás.

O fato é que quem quebrou tabus e fabricou liberdades para todos, todas e todes foi a minha geração. A geração atual está no ramo de fabricar tabus e tolher liberdades, além de fazer coisas sem noção, como achar que está em condições de me chocar. Isso é impossível. Querer chocar um Gen X é o mesmo que querer ensinar galinha a chocar ovo batendo os braços enquanto grita cocoricó. Um millennial não conseguiria assistir a trinta segundos de TV Pirata sem perder os floquinhos e ainda pensa que tem moral para se achar o mago da desconstrução chocatória destabuzante. A única coisa que conseguem desconstruir é a minha paciência. Possivelmente a única coisa que me dá gatilhos é millennial achando que me dá gatilhos e depois sai por aí comemorando, pois pensa que estou chocado com seus tabus quebrados. Sim, estou chocado com sua mediocridade e completa falta de noção.

Não pude ver o primeiro beijo lésbico² na novela pois não era nem nascido. Rolou em 1963 na TV Tupi, também o ano em que Lima Duarte e Claudio Marzo protagonizaram o primeiro romance gay. Nas décadas seguintes, o Brasil se tornaria a Meca da desconstrução planetária. Nós não tínhamos sambódromo, tínhamos soltafrangódromo. Gringos de todo lugar, todo ano peregrinavam para cá fazer na passarela e nos bailes o que não podiam fazer na terra deles. O que millennials fazem para se divertir no Carnaval hoje é censurar marchinhas e fugir de mulher com medo de não é não, acabando com uma festa que é patrimônio cultural brasileiro, e cuja tradição é de que tudo vale, ninguém é de ninguém, e salve-se quem quiser.

Em 1990 também não vi Roberta Close na primeira Playboy com mulher trans do Brasil, pois, como todo brasileiro, comprava a revista só para ler as matérias, e não para olhar as fotos. Roberta na época era, perdoe-me o trocadilho, ícone transnacional, e chegou a contracenar no teatro com Jece Valadão³, um clássico machão brasileiro da velha guarda. Isso é quebrar tabus: encarar de frente algo que é um tabu social e lidar com aquilo. Quebrar tabus não é transitar de Jeep Renegade com GPS sobre uma rodovia asfaltada no meio da mata Atlântica se achando um bandeirante desbravador desconstruindo o desconhecido. Millenials não desconstroem coisa alguma, são só turistas, marinheiros de nenhuma viagem. Ironicamente, naquele tempo era possível discutir tabus com liberdade, sentar à mesa e pensar coletivamente como adultos o que precisa ser pensado, livre do bullying e da histeria moral das descerebradas e infantilizadas patrulhas canceladoras.

Cicuta, exílio, cadafalso, fogueira, guilhotina, paredão: sangrenta é a lista da polícia do pensamento. Pensar sempre foi, e continuará sendo, o maior tabu de todos. Esse é, na realidade, o único tabu a ser quebrado, já que uma vez destruído, seguem os restantes idêntico caminho. Não são na verdade tabus, apenas algo a ser pensado.

"Pense, dance, pense, pense dance" - Frejat




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