Tendência para o Novo Milênio
O Quebrando o Tabu está se perguntando como seria o mundo se mulheres tivessem crescido vendo esses corpos na passarela. A pergunta é fácil de responder: seria um novo nível de inferno muito mais infernal do que as mulheres sequer tem condições de conceber, conclusão a qual não conseguem chegar pois estão, como de costume, ocupadas demais fabricando seus próprios inferninhos coletivos e particulares da estação.
Padrão de beleza não é socialmente construído, coisa que manequins de passarela podem comprovar. O corpo tábua-cabide exigido pela indústria da moda não é, nem nunca foi, o padrão de corpo ideal que homens acham sexy. O homem médio prefere o clássico corpo violão, mas estilistas não escolheram esse padrão provavelmente por razões logísticas. Mulheres com curvas tem variações, o que dificulta acertar o caimento, então é mais fácil padronizar o corpo das modelos em uma forma geométrica descomplicada e previsível do que criar peças personalizadas para cada modelo em particular.
Ocorre que a indústria da moda gira em torno de padrões estéticos arbitrários e mutantes, aquilo que conhecemos como moda. O que é bonito hoje não é o padrão do século passado, nem da década passada, nem do ano passado, e, no Japão, nem o da semana passada. A construção do belo no mundo fashion se dá por identidade coletiva, e mulheres se entendem bem vestidas quando usam o que outras peruas destacadas e influentes estão usando. Observamos esse fenômeno de colméia recentemente no Big Brother, quando a roupa que Juliette Freire estava usando no dia de ser coroada a BBelha Rainha teve procura absurda. Seu status de celebridade lhe deu o poder de ditar tendências, então o que ela enfiar no corpo as piriguetes vão comprar pois aquilo agora é o padrão estético do momento. Chora, Bündchen.
Imagine agora que modelo de beleza não é determinado por fatores biológicos, e formato de corpo é só um padrão arbitrário que flutua conforme o shape da piriguete em evidência ou os humores dos estilistas. Esse ano a Dior escolheu modelo pera albina invertida para sua coleção, ano que vem Versace faz sucesso com corpitchos bundão com peito ovo estrelado, e no outro a Channel emplaca um tendência retrô barril-baleia que faz referência à arte renascentista. Calcule agora o desespero das japonesas tentando acompanhar tudo isso em periodicidade semanal, sem falar que como agora temos roupa e corpo fashion, isso dá mais munição para as peruas ficarem se alfinetando. Viu a fulana? Ainda anda por aí com aquele corpinho Tess Munster do ano retrasado e pensa que está abafando. Totalmente sem noção.
O fato é que existir um padrão de beleza de corpo que não podemos mexer é uma bênção, não uma maldição. Se a piriguete não está no padrão, agora ela está em condições de localizar-se com segurança na escala de atratividade sexual, conformar-se com sua situação ou talvez tentar se aproximar do padrão ideal de beleza. Vai pra academia, faz uma lipo aqui, enfia um botox ali, dá uma calibrada com silicone, compra umas roupas com cortes estratégicos e pronto. Está gostosa e pronta para sair à rua sem medo de ser feliz. Poderíamos enxergar o padrão de corpo feminino como o pretinho básico. Faça chuva ou faça sol, não importa a ocasião, não importa a época, uma vez que a piriguete está no shape perene previsto no script da mãe natureza ela sabe que está comível, portanto filas de bofes alucinados se formarão para mendigar por sexo, assim ela pode reclamar à vontade de assédio, gostosificação e objetificação do corpo feminino para todo mundo saber que ela é gostosa.
É importante publicar essa informação de que a piriguete está cansada de atenção masculina pois sempre é possível que exista entre homens algum desatento que não tenha prestado atenção nela ainda, e é claro que isso é uma insolência misógina que a piriguete desconstruída não vai tolerar. Afinal, o que definitivamente está na moda hoje em dia reclamar que é gostosa demais. Aff, como é opressor ser linda! Esses machos escrotos não param de me assediar. Como já expliquei antes, meninas adoram fazer o que as outras peruas estão fazendo, pois isso é fashion. Super tendência nesse início de milênio.