Taura Macho de Passo Fundo
Esses dias minha mulher estava assistindo futebol feminino e disse que aquilo parecia futebol masculino em câmera lenta. Não gosto de futebol, não entendo nada de futebol, não é minha área, e como qualquer opinião que eu desse naquela hora eu iria dormir no sofá mesmo, resolvi ficar quieto. Como já dizia o velho deitado: em boca fechada não sai mosca. Topei então com um artigo¹ no Universa onde a técnica de futebol feminista Lindsay Camila, duas copas Libertadores e primeira mulher a comandar um time brasileiro campeão sul-americano, está de mimimi porque os machos ficam de mansplaining e têm a audácia misógina de querer ensiná-la como treinar um time.
Bem, sou capivarólogo, atualmente fazendo um pós-denturado em lacraiologia esclerosada, portanto feminista falando asneira é minha área. Não fico quieto agora nem que tenha que passar uma semana no sofá, então vai ter cartão vermelho sim. Técnica de futebol feminista é como técnico homem, só que com cérebro em câmera lenta. Leva uma eternidade para falar algo de útil e mesmo assim não consegue. Podia estar falando de futebol, que é o assunto preferido dos técnicos de futebol, mas não. Tem que usar seu lugar de fala pra falar bobagem. É sempre assim com feministas, então não há o que fazer.
Futebol feminino não vai pra frente justamente por isso. Quantas mulheres tentaram ensinar Camila a fazer seu trabalho? Nenhuma. Futebol de homem no Brasil, que é o que produz resultados, não é assim. Somos um país com milhões de técnicos de futebol. Passa em qualquer boteco e você acha no mínimo cinco pinguços que sabem que o técnico do time deles tá fazendo merda. A regra em campo é clara: torcedor que não sabe que o técnico não sabe o que está fazendo não é torcedor. Escalou o time errado, o plano tático tá ruim, não fez a substituição na hora que tinha que fazer, etc. Os pinguços só não passam o dia inteiro ensinando ao técnico como treinar o time pois não têm o zap do infeliz.
É por isso que técnicos se isolam em momentos críticos. Antes da Copa de 2014, Luiz Felipe Scolari, o Felipão, estava foragido em Gramado, escondido da imprensa e dos pinguços. Foi nessa hora que levei um dos maiores sustos da minha vida. Estava em Gramado de carro, descendo uma rua estreita e inclinada, e na curva estava o Felipão e a esposa andando no meio da rua. Por muito pouco não virei notícia internacional: brasileiro arigó mata em atropelamento o técnico da seleção do Brasil antes da Copa do mundo. NY Times, Folha, Washington Post, The Guardian, Estadão, El País, Gazeta de Piracicaba, Le Monde, Boston Globe, ia ser um mico planetário.
O futebol, entretanto, é uma caixinha de surpresas, e o Brasil tomou 7x1 da Alemanha em casa em 2014. Naquele momento pensei que perdi a oportunidade da minha vida. Se eu tivesse matado o Felipão, teriam que trocar o técnico e o resultado talvez fosse outro. Evidente que Scolari² assumiu total responsabilidade pelo fiasco. Esse é gaudério, taura macho lá de Passo Fundo: caga por tudo e ainda faz questão de assinar embaixo.
Sinto nesse momento que a história tem que ser corrigida. Felipão não tem culpa de nada, o responsável sou eu, então pode colocar esse 7X1 integralmente na minha conta. Falhei com o Brasil e o povo brasileiro. Estava com a bola no pé, na cara do gol, tive a chance de trocar o técnico da seleção naquela Copa, mas chutei na trave.
Adivinha agora quem Lindsay Camila iria culpar se fosse ela a técnica da seleção naquele fatídico momento contra a Alemanha? O machismo do patriarcado opressor, é claro. Depois eu digo que feminismo é bola na trave e a Camila vai querer discutir comigo e me ensinar a fazer meu trabalho. Mais uma razão pela qual o futebol feminino não vai pra frente. Se as feministas brasileiras tivessem metade do talento com a bola que têm para falar bobagem, o Brasil já seria potência mundial no futebol feminino há muito tempo. Com sofá ou sem sofá.