Eu Pirralho

 

Desorientação mental causada por narcisismo culturalmente induzido é uma condição tratável, embora seja difícil convencer o narcisista de que há algo errado com ele, logo ele, aquele ser de luz, o alecrim dourade, o the future is female das galáxias.

Não é possível a menina que Ana foi estar orgulhosa do seu progresso pois ela não existe mais. Pelo visto não só não houve progresso como a coisa involuiu. Seja como for, mesmo que a menina que Ana já foi pudesse emitir opinião, seria uma opinião obtusa. Afinal, para ter resultado nisso aí, a pirralha de ontem não devia ser muito brilhante. Provavelmente lá atrás já era possível prever que ia dar caquinha. Dito e feito. Virou feminista.

Sou do tempo em que os pirralhos tinham mais noção. Todos sabiam, ou ao menos desconfiavam, que na idade adulta iriam se transformar em algo que eles não iriam aprovar. A gente ouvia Legião Urbana, então era impossível ser desinformado: seus pais são o que você vai ser quando você crescer. Aquilo era desesperador, mas ao menos a gente crescia com uma casca mais grossa, pois éramos desde cedo expostos a certas verduras duras de engolir. 

Hoje o pessoal ouve Anitta e Pablo Vittar, então nem vou falar nada que é para não causar gatilhos. Estamos na era do triggering e dos safe spaces. Se por ventura algum palestrante que tenha uma opinião diferente dos alunos conseguir palestrar em uma universidade, é requerido colocar placas na entrada alertando que o conteúdo da palestra não é seguro. 

Quando alguém fala algo que você não concorda, isso é perigoso. Pode causar ataques de pânico e síndrome de stress pós-traumático. Caso o aluno ignore os avisos de perigo e o pior aconteça, ele tem acesso a uma salinha onde pode se isolar para ficar chupando bico e passando talquinho no popô para se recuperar do seu ataque histérico de fifi ardido. Nem vou falar nada que é para não causar mais gatilhos. O mais perturbador da geração safe space é que parece que ela não tem medo de crescer. O que pode ser mais perturbador que uma geração que se imagina como adulto no futuro sendo exatamente a mesma criança mimada que é hoje?

Tenho certeza que meu eu pirralho não se orgulharia de mim se pudesse dar opinião agora. O problema é que não estou interessado em opinião de fedelhos, especialmente de fedelhos que eu já sei muito bem o que têm dentro da caixolinha. Tá pagando meus boletos? Não? Então cala a boca, guri. Sem boleto, sem opinião. Cresce primeiro, depois a gente conversa. Isso soa meio papai, mas enfim, até o fedelho que eu era já sabia que ia ser assim. 

Bom garoto. Toma aqui 50 reáus pra torrar no fliperama. No futuro, vou jogar online games 3D de realidade virtual e você não. Chora, guri. Chora que te faz bem. Nunca vi ninguém morrer porque faz beiço e fica surtadinho. A cura para a necessidade de safe space é acabar com os safe spaces. Um santo remédio que funcionou para todas as gerações anteriores até aqui.

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