O Sojinha Revolucionário


O mundo hoje está sojado. Possivelmente isso tem alguma relação com a queda do nível médio de testosterona em homens, que está visivelmente desabando ao longo das últimas décadas por razões ainda não compreendidas. O problema é que mulheres hoje estão sojadas também, então usar uma explicação hormonal para entender ao menos parte do fenômeno já é complicado, que dirá todo ele.

O sojinha médio de hoje quer ser revolucionário, mas sonha com revoluções instantâneas fabricadas com cliques de apps de celular. Dou uma protestadinha online aqui, uma tretadinha acolá, e ano que vem temos um mundo novo, cultura nova, valores novos. Muito sojinha. Muito. Revoluções culturais são fenômenos multigeracionais, e muitas atravessam séculos. Sojinhas hoje estão com a bunda gorda sentada em um massivo arcabouço abstrato que começou a ser construído durante o período iluminista Europeu com base na revisão de rascunhos de ideias de milênios de idade, empreitada que mudou radicalmente o modo de pensar do cidadão Ocidental. Aquilo custou sangue, cabeças rolaram na guilhotina, gente foi queimada viva, pilhas de cadáveres se acumularam por todo lugar em razão da cataclísmica metamorfose de ideias e valores que assolou o período para que pudéssemos usufruir hoje de coisas que as pessoas acham tão naturais e garantidas quanto o ar que respiram, porque nunca viram como o mundo é sem essas coisas.

O cara entra na Internet sojada e vê o quê? Ain, feminismo misândrico, ain, modernetes intoxicadas, ain, ginocentrismo estrutural, ain, não tem unicórnio pra mim, vou morrer na punheta, ain, vô virá black pill porque acho que tenho 110% de certeza de que nunca nada vai mudar. Mas vai limpar as fraldas que tu tá cocô mano. Larga o bico também. Honre ao menos os bagos dos seus ancestrais, que levantaram do zero a civilização que você pisa matando leão à paulada na Savana. Se nem as bolas que você tem não vai honrar, então que arranje inspiração ao menos com uma pepeca, já que não é porque não tem testículos que não pertence à mesma espécie que a sua.

Simone de Beauvoir foi, sem tirar nem por, uma WGTOW, uiguitáu legítima seguindo seu próprio caminho. Recusou-se a casar e ter filhos em uma época em que isso era extremamente mal visto, e foi sexualmente promíscua em um período puritano que era implacável com libertinagens. Prostrou-se à margem da turba para dedicar-se ao seu trabalho e viver seu projeto de vida. Essa não quebra padrões, ela tritura, enrola em papelzinho e fuma pra ver que barato vai dar. Beauvoir localizou a mulher no tempo e no espaço e traçou um esquema que pensou adequado para a mulher do futuro. No tempo livre ainda revisava os rascunhos de Sartre, um manginão sapiosexual bunda mole que não conseguiria publicar um post no Facebook sem receber validação da amante. 

Tirando a parte do manginão, acredito que o resto ninguém tenha feito antes, já que ninguém antes dela parou para filosofar sobre o seu locus de gênero no mundo, ao menos não com aquela extensão e profundidade, combinando uma análise de passado e presente com um esforço sincero para pensar o futuro. Salvo melhor juízo, o teor de sua obra é inédito, até porque ela não apenas propôs um experimento, como foi cobaia do seu próprio experimento. Pouco do que ela pensou para o futuro acabou acontecendo como pretendia, mas é inegável que seu ânimo de reposicionar a mulher como animal político-econômico no mundo foi 110% bem-sucedido, e os resultados, para o bem ou para o mal, estão aí para quem quiser ver.

Tudo isso Simone fez sem Youtube, sem Facebook, sem Twitter, sem Google, sem apoio de manadas, sem aprovação social irrestrita, sem nenhuma garantia ou perspectiva de que sua visão de mundo sequer pudesse vir a termo, inteiramente na contramão de milênios de cultura. Literalmente saltou à frente de seu tempo, entregando a vida aos próprios ideais gritando sigam-me as boas. Na foto, à esquerda, La Simone. À direita, Nikola Tesla. Abandonou a perseguição da perseguida para dedicar-se aos seus gadgets e outros rolinhos. Mgtow old-school. Sem soja. Sem mimimi. Sem X-Videos. Sem bonecas de silicone. Sem ain tô bléquipiu vô jogá baleia azul. 

"O segredo da felicidade: encontre alguma coisa mais importante que você e dedique sua vida a ela." ― Daniel C. Dennett

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