Love is a Force of Nature
Possivelmente a estratégia de marketing mais imbecil imaginável para promover um produto é dizer a um potencial cliente que ele contém falhas morais que o impedem de gostar do produto. O vendedor também diz que não faz questão que você compre pois o produto não foi feito para você. Não esquecer também que, mesmo após ter sido alvo desse competente charme de vendedor, se você não consumir o produto e gostar dele, você deverá se sentir culpado. Aconteça o que acontecer, pode se preparar para ser linchado pelos pelos minions do vendedor, que estão mais interessados em infernizá-lo usando o produto como desculpa do que no produto propriamente dito. Isso não é estratégia de marketing. É sabotagem. Espantosamente, esse tipo de coisa é padrâo no cinema hoje.
Brokeback Mountain, quando foi lançado, estava envolto em um evidente desconforto homofóbico em razão de ser uma história de amor gay com cenas bastante "calientes". O problema é que ninguém avisou que o filme foi feito para assustar homofóbicos. Ninguém se sentiu não convidado. Ninguém foi informado que deveria sentir culpa por não querer ver ou por ver e não gostar. Sucesso nas telonas. Quando chegou nas locadoras, os funcionários estavam todos com chapéu de cowboy gay e sorrisinho amarelo para fazer o marketing da fita. Sucesso também nas locadoras.
O verdadeiro segredo de Brokeback Mountain é ter sido um filme de protagonismo compartilhado, o único protagonismo possível em qualquer narrativa. A jornada dos personagens é universal, já que um amor proibido, aquele que não pode ser exercido por alguma razão, estabelece pontos de contato com a narrativa pessoal de qualquer um. Empatia é o nome do fenômeno. Nenhuma narrativa pode funcionar sem empatia pois nenhum narrador vende a história dos outros. Ele nos vende a nossa.
Hollywood, sob pretexto de criar narrativas inclusivas, está investindo progressivamente em histórias cada vez mais excludentes. É a direção oposta da coisa que nos mantém interessados em narrativas de qualquer tipo. A sociedade nunca viveu de protagonismos da forma como o protagonismo está sendo vendido hoje. Pelé era pobre e negro, mas quando chutava a gol, a elite racista brasileira chutava com ele. Pelé nunca expulsou a elite brasileira racista de campo. Nunca disse que seus gols não eram também deles. O que Hollywood não entendeu ainda é que isso não é cultural, portanto não pode ser mudado. Faz parte da engrenagem humana conectar-se uns aos outros por meio de narrativas comuns. Essa é a cola que mantém o tecido social unido e o permite sobreviver às intempéries de suas pressões internas.
Empatia é observável em primatas, todos animais sociais como nós. Não é uma modinha. Não é uma invenção de macacos modernos. É como a roda. Não pode ser reinventada. É a coisa mais redonda que podemos fazer. Não há margem para upgrades no design, embora com certeza possa ser piorado.
Love is a force of nature.