Cultura & Fatalismo
A necessidade de fabricar falsas dicotomias é um câncer cognitivo. O indivíduo que apela para a dicotomia entre cultura e fatalismo biológico está fatalmente apelando para uma falsa dicotomia. Tal dicotomia não existe, já que não há ninguém em lugar algum apelando para o que seria possível entender por fatalismo na Biologia. Explicações biológicas sobre o comportamento humano não apelam para fatalidades, mas o falso dicotomista fatalmente vai sentir a necessidade de não entender sobre o que está falando precisamente pois seu objetivo é dicotomizar incorretamente com algum fim espúrio diverso.
René Descartes |
O objetivo provavelmente é afirmar, sem suporte, algo que substitua com algum verniz científico a inexistência de natureza ou de qualquer grau de determinação, restrição ou limite identificável no fenômeno comportamental. Em outras palavras, eu chutaria que o pseudodicotomista trata-se de um socioconstrutivista enrustido. O legal com esse meu chute é que nunca vi falhar até hoje. Indivíduos negando "fatalismo biológico" fatalmente são pseudocientistas socioconstrutivistas ou pseudosocioconstrutivistas. Não basta ser pseudo, tem que ser pseudopseudo. É muita pseudagem.
É precisamente por existir pseudagem no mundo que cientistas são obrigados a moderar seu vocabulário com fim de atender as necessidades emocionais irracionais da turba, que digladia-se com sua incapacidade de entender a diferença entre o que eles gostariam que o mundo fosse e o que ele realmente é. Quando cientistas usam a palavra determinismo, são no final forçados a apelar para a palavra "tendência", já que assim que apelarem para determinismos a turba fatalmente vai surtar. É o que a turba fatalmente irá fazer por força de determinismo biológico, uma reação causada por vários artefatos cognitivos presentes em nossos cérebros de primata moldados por milhões de anos de pressões evolucionárias.
Leis da Física possuem caráter determinístico. Mesmo a Mecânica Quântica nada mais é do que uma descrição determinística de um comportamento estocástico da matéria. Não fosse assim, seria impossível realizar inferências probabilísticas a respeito dos futuros estados do sistema. Seja lá o que esteja ocorrendo no seu cérebro, a atividade nervosa está fatalmente determinada pelas leis da Física e severamente limitada por uma série de restrições que podemos estudar e identificar. Fatalismo é uma palavra que não descreve adequadamente o comportamento da matéria, mas a ideia de que sua atividade nervosa flutua liberta de qualquer amarra ou mecanismo determinístico viola as leis da Física. O que pretendem indivíduos declarando-se avessos a "fatalismos biológicos" eu já sei: revogar a Física.
Uma das razões que possuímos para negar o conceito da tabula rasa é que ela, em última análise, é incompatível com as leis da Física. Ao que parece, humanos estão fatalmente determinados a tentar fabricar algum tipo de tabula rasa libertadora em algum lugar a qualquer custo. Qual mecanismo aprisiona indivíduos a essa busca inglória eu não sei. O que posso afirmar é que o ânimo é disseminado e observável hoje e através da história até onde o olho alcança.