A Roupa Nova do Rei
Na história da Roupa Nova do Rei, o rei finge ver sua roupa que só os inteligentes podem ver para não admitir perante seus súditos que não é inteligente. Ironicamente, ao decidir usá-la em público, o rei provou não ser inteligente. Se fosse, deveria calcular que pessoas não inteligentes não veriam a roupa, e ele seria visto nu em público. Algum dos conselheiros reais deveriam ter calculado isso e alertado o rei, mas temiam não só por sua cabeça como por sua reputação. Isso nos mostra que quando acreditamos em algo somente por pensar que aquilo é virtuoso, há inevitáveis consequências. Não só assumimos um compromisso de desconexão com a realidade como abandonamos a própria virtude que queremos preservar.
A fábula é bastante atual, já que vivemos na era da Roupa Nova da Tribo, um mundo pós-verdade. Não estar vendo a roupa, ou seja, estar cego a respeito dos fatos, é irrelevante ou até mesmo necessário. O único valor a ser buscado é subscrever às crenças que fazem de você um membro virtuoso da tribo, independente de elas serem verdade ou não.
O mais magistral sobre esse conto é que foi uma criança que enxergou o óbvio: o rei está nu. Todos os indivíduos que avançaram nosso conhecimento sobre o mundo o enxergaram através dos olhos da criança da história, livres da necessidade de exibir sabedoria ou virtude, livres do conhecimento dos adultos sobre o que nos é permitido ver.
Muitos acreditam que inteligência é a ferramenta chave para enxergar a verdade. Isso é falso. A audácia e a honestidade das crianças é o que precisamos. Vaidade, ainda que combinada com a mais superior das inteligências, só o que produz é escuridão. O rei, por ser cego, não viu. Por vaidade, não se permitiu admitir que é cego, a única coisa que seria capaz de lhe restaurar a visão.
“I have a vision” - frase nunca dita por Martin Luther King, que na realidade disse “I have a dream”. King não se permitiu enxergar o que todos viam e sonhou com um mundo que todos deveríamos ver. Morreu assassinado em 4 de abril de 1968.